Doidinho - José Lins do Rego

Eu li Menino de engenho na faculdade para um trabalho da aula de Produção Literária do Nordeste e foi um dos trabalhos mais prazerosos que eu fiz durante o curso. desde então eu planejo ler os outros livros do ciclo da cana-de-açucar, mas os anos foram se passando e isso sendo adiado. Dias desses, porém, adquiri Doidinho na Estante Virtual e li em poucos dias.
Carlinhos deixa o engenho Santa Rosa e vai para um colégio interno. No colégio do professor Maciel ele começa a aprender na lei da palmatória. Maciel é um tutor tão rigoroso que faz Carlinhos nervoso a ponto de errar até o que ele já sabia e assim o menino acaba apanhando mais.
Aliás, no colégio, ele não é mais Carlinhos, todos os alunos são apelidados uns pelos outros e devido aos seus nervosismos, ele é apelidado de Doidinho. O colégio é uma prisão com pessoas não amigáveis, falta de conforto e higiene, alimentação insuficiente. Doidinho sente-se injustiçado e enjeitado por estar lá, por sofrer muitos castigos devido a sua dificuldade de aprender, por não receber agrados e visitas dos parentes como os outros meninos e pensa que se tivesse pai e mãe não sofreria assim.
Ele pensa que os meninos da escola são malvados, mesmo m colega acaba revelando aos outros que o pai de Doidinho matou-lhe a mãe e está preso como louco. O único orgulho do garoto é receber uma visita do avô e mostrar aos colegas como o seu avô é poderoso, como as pessoas na região o respeitam.
Coruja é o único amigo que ele faz na escola, um menino de coração bom, que o ajuda e com quem ele tem as melhores conversas. Mesmo dentro do colégio, Doidinho experimenta diferentes paixões, o amor platônico por Maria Luiza, uma das alunas externas, com quem ele nunca pode trocar uma palavra e o sexo carnal com a preta Paula que trabalha na cozinha.
Contando suas memórias do colégio, Carlos descreve a vida desses adolescentes de engenho, cujos parentes sonham em ver tornados em doutores, mas ele sente mesmo é saudade do engenho, suas memórias incluem as neuroses da mente do menino cismado com doenças, mortos e medo da morte.
É uma leitura muito gostosa, a escrita do José Lins é uma das minhas favoritas. Eu tenho isso, se gosto do estilo de um escritor, leio qualquer história em poucos dias. Essa é uma delas, o leitor consegue entrar na alma do personagem e viver essa fase com ele.


O perfil dos personagens negros


Embora o protagonista, como na maioria dos romances, seja branco, ainda é interessante tentar traçar um perfil de como as mulheres negras eram retratadas.Eu pude observar três diferentes perfis dessas mulheres, claro, sob o ponto de vista de Carlinhos.
O mais evidente desde o primeiro livro é o da negra sexualizada, é com elas que os meninos de engenho conhecem as primeiras aventuras sexuais, elas se mostram, provocam e os procuram sexualmente. Talvez uma fantasia do autor? Muitas negras jovens são tidas como perdidas no mundo graças a perda da virgindade ou gravidez causadas por senhores de engenhos. Pelo conhecimento prévio, ainda tendo a imaginar que realisticamente a maioria dessas relações eram forçadas. Nas narrações do personagem, as negras eram demônios sensuais oferecendo-lhe o pecado durante um banho.
Em segundo lugar há a boa e velha negra que é como um animal doméstico da família, ela recebe uma certa consideração pelo tempo que pertence a essa família e fala dos senhores com respeito e carinho.
O terceiro perfil que eu particularmente achei interessante nesse livro foi representado por uma ajudante temporária da negra Paula. ela nasceu após a lei do ventre-livre e nunca foi escrava. Ela contava histórias de negros que se vingavam dos brancos, que os envenenavam com encantos e magia para que pagassem os castigos injustos.
Através dessas pequenas passagens, podemos ir resgatando as histórias dessas personagens que até hoje não são destaque na literatura.

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