Expectativas

Agarro-me à mochila como se ela fosse o meu mundo, minha mãe, uma amiga, alguém que pudesse me abraçar. Agora sou eu, ela e o fardo que pudermos carregar. Eu nunca estive sozinha, mas na verdade, eu não tenho ninguém. Ninguém que possa me defender de mim, ninguém que possa entender o meu medo, a minha profunda angústia. Eles podem me confortar, me encorajar, mostrar como está tudo bem. Podem me ouvir até estourar os ouvidos, mas nunca vão provar do meu medo e da minha vontade.
Eu posso apenas ficar parada olhando a chuva, olhando as pessoas se atropelarem desesperadamente pra não perder o metrô.Acho que alguém caiu na escada e foi pisoteado, há um inicio de confusão.
Eu faço parte disso? Agora estou tão perdida dentro de mim que me isolei do mundo. Posso perder desse, estou me organizando. São alguns minutos como quem olha pra chuva, mas olho dentro de mim.Eu tive uma vida pra olhar pra mim, mas estou sempre mudando e sempre tenho novidades.
Não posso mais me perguntar o que faz sentido, o que vale a pena. Não tenho o que perder, algumas pessoas têm nome, herança, ocupação, pra onde ir, onde ficar, eu tenho uma mochila e tenho que viver. 
Tenho uma coleção de incertezas e um bocado de medo de errar.
Encaro as pessoas que passam apressadas, tem tanta coisa sobre elas que eu queria saber, mas nenhuma pergunta capaz de traduzir o que eu realmente quero saber, só posso observar e sentir suas vibrações. Elas estão repletas, não é bem essa a palavra, mas serve. Estão preenchidas, como eu gostaria de estar.
Em breve, eu estarei repleta de tudo, menos de mim. Às vezes, preciso me esvaziar de mim pra ficar mais leve. Então, eu vou estar no mundo e fora de mim, vou rir com minhas amigas, vou estar acompanhada e reconhecer que tudo vai ficar bem, eu sempre fiz parte disso tudo. Foi só um momento de dispersão.




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